Tom Zé - "Todos Os Olhos" (1973)
Claramente um dos grandes nomes, senão o maior, do experimentalismo com a música brasileira, Tom Zé não poderia ficar de fora dessa lista. Neste disco lançado em 1973 o tropicalismo ficou pequeno, seus experimentos acabaram ficando além da capacidade digestiva da época, ressurgindo décadas depois como uma obra-prima deste mestre.
A própria capa do disco já é reflexo da irreverência, experimentalismo e ausência de limites de Tom: a ideia original era fotografar uma bola-de-gude pousada sobre um ânus num confronto à censura imposta na época. Porém após várias tentativas de realizar a foto, por dificuldades técnicas acabaram fotografando a boca de uma modelo para representar o orifício.
Na faixa inicial "Complexo de Epico" o compositor já brinca com a sisudez dos compositores brasileiros, um samba-introdução para seu estilo irreverente, alheio a formatos estáticos e pré-definidos, perfeito contraponto à seriedade forçada de seus contemporâneos.
Em seguida uma canção compenetrada, "A Noite de Meu Bem" (composta por Dolores Duran) diálogo entre voz, violão e teclado-synth, onde a poesia toma asas e penetra nos ouvidos, guiada pelas notas ininterruptas do teclado. Surge o lado platônico de Tom.
Logo em seguida vemos seu lado experimental e lúdico despontar em "Cademar", poesia concreta tropicando a caminho do oceano.
Na faixa título do disco, um samba-rock-psicodélico onde Tom se isenta de responsabilidade sobre as loucuras que despeja sobre os ouvidos do mundo. Se declarando um mero artefato de suas ideias.
O disco então segue pelos caminhos sinuosos da música brasileira: "Dodo e Zezé" é uma moda de viola no estilo dupla sertaneja psicodélica. "Quando Eu Era Sem Ninguém" tem um toque de forró entre os momentos de cantoria violada. Uma Bossa-Nova irônica em homenagem à decadência inevitável de "Brigitte Bardot", como uma raposa troçando das uvas.
Em "Augusta, Angélica e Consolação" o melhor do samba-rock paulista, uma resignificação dos pontos notáveis da cidade da garoa, guiada por um tema inesquecível que ecoa na mente pelo resto do disco.
Em "Botaram Tanta Fumaça" Tom se vale do samba para lançar uma crítica à poluição de São Paulo. Sempre a frente do seu tempo o compositor mostra que já estava atento às questões de qualidade de vida urbana em 1973, sem deixar de questionar a consciência de seus habitantes.
Com "O Riso e a Faca" o clima ameniza, em ritmo lento uma poesia sobre o sofrer e o curar. O canto pausado entre sílabas valoriza a singela canção.
Já em "Um 'Oh' e Um 'Ah'" o samba-lúdico retorna, uma curta e genial composição onomatopéica. Paracatizum! O disco então termina em mais uma versão da primeira faixa, no esquema serpente mordendo a própria a cauda o disco retorna a seu início e nos dá vontade de ouvir novamente!
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Faixas:
Lado A | ||||||||||
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N.º | Título | Compositor(es) | Duração | |||||||
1. | "Complexo de Épico" | Tom Zé | 1:19 | |||||||
2. | "A Noite do Meu Bem" | Dolores Duran | 3:08 | |||||||
3. | "Cademar" | Augusto de Campos, Tom Zé | 0:45 | |||||||
4. | "Todos os Olhos" | Tom Zé | 3:32 | |||||||
5. | "Dodô e Zezé" | Odair Cabeça de Poeta, Tom Zé | 3:59 | |||||||
6. | "Quando Eu Era sem Ninguém" | Tom Zé | 3:19 |
Lado B | ||||||||||
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N.º | Título | Compositor(es) | Duração | |||||||
7. | "Brigitte Bardot" | Tom Zé | 2:56 | |||||||
8. | "Augusta, Angélica e Consolação" | Tom Zé | 3:45 | |||||||
9. | "Botaram Tanta Fumaça" | Tom Zé | 2:49 | |||||||
10. | "O Riso e a Faca" | Tom Zé | 2:43 | |||||||
11. | "Um "Oh" e um "Ah"" | Tom Zé | 1:02 | |||||||
12. | "Complexo de Épico" | Tom Zé | 6:47 |
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